A nova edição da revista católica Regina Milites, do Instituto Estudos Nacionais, traz uma história pouco contada sobre a infiltração de ideias esotéricas e espiritualistas do século XIX no interior da Igreja. Trata-se do tradicionalismo filosófico, escola que tinha como um de seus expoentes o maçom Joseph De Maistre, tido por muitos como “mártir” da contra-revolução. De Maistre estava associado a ideias anticatólicas, embora as usasse em aparente defesa da Igreja. Não por acaso, ele reaparece citado por nomes do tradicionalismo moderno como René Guénon, igualmente celebrado por certos conservadores contemporâneos.
Leia abaixo um trecho do artigo que sairá na próxima edição de Regina Milites, a revista do catolicismo combativo do século XXI.
Embora as ligações entre maçonaria e a Igreja Católica tenham sido frequentemente associadas à influência no Concílio Vaticano II, a história da tentativa de infiltrar-se no seio da Igreja por meio da fumaça de Satanás é longa e cheia de fatos pouco mencionados.
Desde o século XIX, um certo tipo de tradicionalismo que se opunha às ideias iluministas na França flertou de maneira bastante pública com certas ideias espiritualistas em moda na época, embora associado ao ultramontanismo e frequentemente considerado integrado à chamada escola contra-revolucionária.
Foi por esta razão que o Concílio Vaticano I (1869-1870) condenou o chamado tradicionalismo filosófico em vários aspectos, especialmente a ideia de que a razão humana seria incapaz de conhecer a verdade sem a ajuda da revelação divina. Obviamente, afirmar o contrário estaria alinhado ao iluminismo, que defendia certa indiferença sobre a fé. Mas a distinção entre fé e razão acabou criando dois entes separados e defensáveis por escolas e grupos diversos, o que já não se pode chamar de autêntico tradicionalismo.
O tradicionalismo filosófico era defendido por Joseph De Maistre e outros tradicionalistas do século XIX, que acreditavam que a fé, e não a razão, era o único meio de alcançar a verdade, simplesmente invertendo os dogmas iluministas. Por essa razão, eles foram chamados de contra-revolucionários e louvados por muitos católicos até hoje como mártires da Revolução. Mas a sutileza de suas influências espirituais não deve ser subestimada. O mal se oculta sobre um véu belo e atrativo que pode enganar até mesmo as boas almas justas.
A condenação formal da Igreja àquele tipo de tradicionalismo veio na constituição dogmática “Dei Filius”, onde o Concílio afirmou que a razão humana, apesar de limitada, tem a capacidade de alcançar verdades fundamentais sobre Deus e o mundo sem depender exclusivamente da fé. Essa afirmação, em si mesma e isolada do recado que estava dirigindo àquele erro francês, também dirigiu a outros problemas. Aquele tipo de tradicionalismo, infiltrado dentro da defesa papal do ultramontanismo, foi assim criticado por subestimar a capacidade racional do homem. Mas o que estava por trás era outra coisa.
Entre os autores cujas ideias foram rejeitadas estavam Joseph de Maistre e Louis de Bonald, que eram defensores de um tradicionalismo católico que atribuía à revelação divina a única fonte de conhecimento verdadeiro, em oposição ao racionalismo emergente da época. As influências espirituais desses autores revelam, porém, a razão por trás das suas defesas da Igreja e da monarquia.
Aqueles autores trazem graves erros doutrinários contra a fé e a revelação, muito embora apareçam hoje defendidos por católicos zelosos da tradição. Joseph de Maistre sofreu grande influência do místico luterano Jacob Boehme. Além de maçom martinista, de Maistre também flertou com inúmeras ideias espiritualistas gnósticas.
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