A notícia não é nova, mas surgiu hoje como novidade a partir de uma reportagem vinda dos EUA, o que certamente será usado como suspeita de “desinformação” por parte dos amigos da Rússia no Brasil.
De acordo com uma reportagem publicada nesta quarta-feira (21) no The New York Times, a Rússia usou o Brasil para preparar uma série de espiões que atuariam na elite de seus programas de inteligência para viajarem a outros países com origem brasileira. No Brasil, eles faziam novas identidades e viviam uma vida norma até receberem ordem de viajar para outros países usando para isso documentos brasileiros. A eficiência do disfarce é justamente o fato de que os brasileiros viajam para todos os países, como EUA, Europa ou Oriente Médio. Dessa forma, o Brasil funcionou como gestante dos erros da Rússia pelo mundo.
Esses espiões “apagavam” seu passado russo ao chegarem no Brasil, abriam empresas, faziam amigos e até constituíam família. Objetivo no Brasil não era espionar, mas apenas “se tornar brasileiro”, tendo o Brasil como uma espécie de incubadora de onde se espalhavam pelo mundo.
A matéria do NYT parece passar uma imagem positiva da Polícia Federal, desacreditada e humilhada por vergonhosas operações contra a população pelas mãos de Alexandre de Moraes. Segundo o jornal, agentes da PF brasileira estariam investigando espiões russos desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022. A reportagem do NYT conta que a PF vasculhou milhões de registros de identidade em busca de padrões. No entanto, não há informações se eles já foram detidos.
Até o momento, foram identificados pelo menos nove agentes russos com identidade brasileiras falsas. A investigação já alcançou pelo menos oito países e teve o apoio de serviços de inteligência dos EUA, Israel, Holanda, Uruguai e outras localidades, de acordo com a reportagem.
Em abril de 2022, cerca de dois meses depois de a Rússia invadir a Ucrânia, a CIA (inteligência norte-americana) enviou alerta ao Brasil. Na mensagem, dizia que um agente da inteligência militar russa havia se candidatado para um estágio no Tribunal de Haia, na Holanda. No mesmo período, a Corte começou a investigar crimes de guerra da Rússia na Ucrânia.
Ideias mais perigosas que espiões
Embora não pareça haver interesse direto no Brasil por parte da Rússia, recentemente uma matéria da revista Crusoé mostrou uma rede de compra de jornalistas no Brasil e Argentina, para a publicação de notícias e textos favoráveis à política expansionista de Putin. Sobre isso, não parece haver interesse em investigar, já que o STF está se ocupando de encontrar golpes imaginários na população. Isso pode mudar, no entanto, já que as ideias russas vêm encontrando terreno fértil justamente no meio conservador nacional.
Se o interesse pelo país parece ser apenas estratégico e aparentemente transitório, as ideias russas já cravaram fundações no Brasil, por meio do influente ideólogo Alexander Dugin, que é filho de agente do serviço secreto soviético e um importante autor lido pelo comando do exército russo desde 1999, por recomendação do próprio Vladimir Putin.