Há décadas vemos uma agenda pouco silenciosa proveniente do poder civil com a clara intenção de legislar sobre a Igreja Católica, mirando especificamente os sacramentos, canais diretos de Deus, sem os quais as almas não obtém o auxílio divino prometido por Cristo por meio de Sua Igreja. As verdades da fé católica vão sendo relativizadas diante de supostos problemas novos, diariamente denunciados, colocando o clero como suspeito. O principal veículo dessa agenda são as denúncias e suspeitas sobre casos de abusos sexuais por parte do clero.
Em 2 de maio de 2025, o governador de Washington, EUA, promulgou uma lei estadual que exige que padres denunciem abusos infantis às autoridades, mesmo que tenham ficado sabendo do crime no sacramento da confissão. Aos olhos do mundo atento às notícias, e suscetíveis às indignações fabricadas por sensacionalismos, nenhuma crença privativa da Igreja poderia julgar-se acima da justiça dos homens e de seu veículo onipotente e infalível: as cortes de Justiça e a polícia.
Acontece que, violado o sigilo confessional, o padre é condenado pela Igreja com excomunhão e só o próprio Papa pode absolvê-lo. A atual pressão do mundo contra o sigilo confessional leva sacerdotes a uma encruzilhada: ou são punidos pela Igreja ou pelo mundo. Ou as feras da arena pública ou a condenação eterna. No entanto, desejosos de apreço pelo mundo, não são poucos os católicos que flertam com a crítica de prelados e clérigos quanto a este assunto, ansiosos por uma submissão da Igreja aos poderes seculares. Eles não imaginam a quem estão servindo como verdadeiros idiotas úteis.
A verdade é que, independente da sua gravidade e necessidade de reparações ou punições, os casos de abusos sexuais na Igreja nem sempre são caso de polícia. O fato é que todos eles são matéria de confissão, arrependimento e, recebida a graça do sacramento, a garantia da obtenção das graças suficientes para superar os erros. O resultado prático do ataque ao sacramento é que os pecadores não buscarão mais a confissão, já que não poderão contar com o sigilo sacramental, precipitando-se ainda mais fundo no erro e abominações.
Afinal, não é o padre que perdoa os pecados, mas o próprio Cristo, que estabeleceu essa aliança com a Santa Igreja para a cura e tratamento das almas necessitadas. Para o mundo civil, nada disso importa e sim a punição de criminosos neste mundo. No entanto, o mundo civil contemporâneo, o sabemos, é instrumento das forças espirituais que agem contra a Igreja para condenar mais almas.
Como sempre, o mundo propõe como solução a um problema um meio que claramente o torna ainda pior. O sigilo de confissão, porém, é uma norma que está acima da jurisdição humana, não podendo ser modificado nem mesmo pela Igreja Católica. Isso não impede que pressões do mundo sejam exercidas e amplifiquem a crítica popular, valendo-se de reportagens e denúncias cada vez mais sensacionalistas.
Durante seu pontificado, o Papa Francisco não cedeu à pressão da mídia e de governos civis
Em 2021, um relatório publicado na França parecia expor uma enormidade de casos de pedofilia envolvendo o clero, o que chocou grande parte dos franceses. Após a publicação desse relatório, um estudo do Instituto Ipof apurou que dois em cada três católicos franceses não confiam na Igreja. Na ocasião, porém, o Papa Francisco deu sua palavra contundente.
“O sigilo do sacramento da confissão é sagrado e inviolável. Um ponto que permanecerá firme e irrenunciável; para defendê-lo, estou disposto a colocar todo o meu peso magistral”. Com essas palavras, o Papa, durante um encontro dos chefes de dicastérios, trouxe um clima grave à sala onde se estava se reunindo com os seus colaboradores mais próximos da Cúria. Francisco resumia o último confronto em andamento aos cardeais e bispos presentes.
Iniciativas legislativas em países como Austrália, França e Estados Unidos tentaram obrigar os padres a delatar abusos confessados. Ainda que motivadas por um compreensível desejo de justiça, tais propostas ignoram um princípio fundamental da verdadeira Justiça e misericórdia: a confissão não é um canal de denúncia, mas um espaço de arrependimento e conversão, onde a graça age em segredo, curando de fato as almas. Mas será que o mundo é capaz de acreditar na ação da graça? O mundo secular já desde o início da modernidade, renunciou à graça, optando pela eficiência, ação e trabalhos humanos, numa verdadeira bola de neve de orgulho e vaidade humana que culmina na eliminação dos canais vitais de auxílio divino.
A Santa Sé, em diversas ocasiões, reafirmou a imutabilidade dessa doutrina, como na Nota da Penitenciaria Apostólica, de 2019, que lembra: “o confessor nunca pode ser forçado a violar o sigilo sacramental, nem por razões eclesiais, nem civis, sob qualquer forma de pressão.”
A verdadeira justiça começa na alma
Preservar o sigilo da confissão não significa pactuar com o mal, mas exatamente pelo contrário, significa manter viva a possibilidade da conversão verdadeira, muitas vezes o único ponto de ruptura no ciclo do pecado que leva ao inferno, o que é punição mais justa e pior do que uma mera condenação pela justiça humana. Será que o mundo quer conduzir os pecadores ao inferno? Pode ser, mas antes desejam multiplica-los em torno da Igreja para melhor culpar o clero e o poder espiritual legítimo.
Afinal, sem a garantia de silêncio absoluto, quantos pecadores deixariam de confessar seus crimes? Quantas consciências continuariam aprisionadas, sem sequer ousar buscar o perdão? Pior do que isso: sem a graça do sacramento, como dito acima, precipitarão em situação ainda pior. Mas é isto o que o príncipe deste mundo deseja através de seus instrumentos do poder civil, secular e anticatólico. Eles desejam transformar todo padre fiel e obediente em cúmplice de crimes, ou seja, está em jogo a mais cruenta e perigosa perseguição à Igreja Católica.
É evidente que o padre não é cúmplice do pecado, mas médico das almas. Desfigurar essa realidade por pressões externas seria submeter o Eterno à lógica do temporal, corroendo a liberdade religiosa em sua base mais íntima, que é a liberdade do próprio Deus.