O cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, antigo cargo de Joseph Ratzinger, foi nomeado pelo mesmo, enquanto Bento XVI.
Em visita a Varsóvia em 25 de abril de 2023, o Cardeal Gerhard Müller citou uma frase dita em um discurso do ideólogo russo Alexander Dugin, segundo o qual, “se conseguirmos destruir a Igreja Católica na Polônia, a Rússia poderá subjugar nosso país e toda a Europa”. O cardeal apelou aos poloneses para que não permitam que esse cenário se concretize. O alerta foi destacado na época pela revista polonesa Fronda.
A frase de Dugin resume um dos aspectos do anticatolicismo da doutrina russa atual, como mostramos recentemente em um dossiê das ações do Kremlin e de suas redes ideológicas pelo mundo contra a Igreja Católica. Ela demonstra o que temo dito frequentemente, que o catolicismo é o real inimigo da Rússia e também a única força capaz de conter seu avanço.
Em geral, os eurasianos ou duguinistas utilizam a plataforma do antiliberalismo para associar a Igreja de Roma a uma conjuração liberal ocidental. Unido a movimentos esotéricos e maçônicos em todo o mundo, Dugin e os duguinistas trabalham frequentemente no fomento de grupos sedevacantistas, que não raro vão parar na Igreja Ortodoxa Russa ou até mesmo no Islã.
Dominando cada vez mais os movimentos e partidos conservadores da Europa, a única força que seria capaz de conter o avanço do duguinismo seria o catolicismo, desde que se ponha em obediência a Roma. Por trás da doutrina russa atual, há o mito da Terceira Roma, cultuado entre políticos e teólogos ortodoxos, que veem Moscou como o futuro centro espiritual do mundo. Roma é, portanto, um evidente obstáculo e colaboram com essa sabotagem todo e qualquer movimento que direcione católicos à atitude informal ou formal de cisma.
Müller parece ser um dos poucos cardeais que perceberam o problema por trás do duginismo. Sendo ele um conservador, isso tem grande importância, já que opor-se à Rússia meramente no contexto da Guerra da Ucrânia tem sido, em geral, associado aos liberais do Ocidente e nem sempre aos católicos conservadores.