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Eterna incompletude cotidiana

Cristian Derosa por Cristian Derosa
05/08/2019 - Atualizado em 13/03/2023
em Cristian Derosa, Crônica
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A pequena antessala do gabinete do vereador apertava-se com seis pessoas. Umas sentadas outras de pé. Aguardavam seu momento. Esperavam enquanto a secretária, aguilhoada a um telefone, rabiscava recados. Quando finalmente libertou-se, olhou-me e sorriu. Informei do horário marcado e pediu-me algumas informações pessoais para cadastro. Enquanto isso transcorria, chegavam e saiam pessoas. A secretária se desculpava, justificava e prometia. O gabinete funcionava como agência de empregos. A equipe do vereador parecia desdobrar-se para cumprir promessas de campanha sem se ater a conquistar simpatias. Nas paredes da antessala, as fotos e mais fotos do bondoso e popular servidor, destinavam-se a atestar, a quem duvidasse, que um dia o vereador entrou em uma casa simples, beijou uma criança e sua pobre mãe, abraçou uma senhora e visitou um instituto ecológico da periferia. Outras fotos tratavam de formalizar que em um dia de sorte também abraçou o prefeito. Sorte do prefeito.

– Queres um café? – perguntou-me a secretária em uma valiosa pausa das ligações.

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– Não, obrigado – respondi.

– E você? Quer? – perguntou à moça que estava mais próxima. E assim, iniciaram uma conversa quando a secretária fez observações sobre o clima que, segundo ela, andava meio confuso. Mostrava o estranhamento diante do frio que havia feito pela manhã e a diferença de temperatura em relação ao seguir do dia.

– Deu uma refrescada né, porque tava frio de manhã, tu vê! Eu saí de casa com casaco!

A partir daí, falaram sobre o tempo e sobre o café, frio ou quente, com ou sem leite, comidas adequadas ao acordar e lugares interessantes para se comer e viajar. O assunto durou até o momento em que um homem precisou sentar na cadeira que ficava mais próxima à mesa da secretária, ou seja, entre as duas conversantes. Ele pedia para fazer uma ligação.

Tudo naquele gabinete girava em torno de contatos. Fulano disse que conseguiria aquele emprego para o cunhado de beltrano, que foi até o local, mas não encontrou ninguém. Então precisava avisar que ele ainda estava interessado e que esta semana estavam difíceis os horários.

A secretária tinha os olhos vivos, o sorriso sempre pronto e falava rapidamente com sua voz e sotaque da Ilha do Desterro. Muito magra, vestia rosa como uma mãe de meninas que devia ser. Ou não. Disfarçava os brancos do cabelo com um loiro muito branco. Ela dedicou um sorriso ao homem que a havia privado da conversa e disse a ele que ficasse à vontade. Não havia mais como retornar à conversa, uma vez que a moça estava agora longe e mexia no celular. O tema estava acabado fatalmente, falecido pela força do dever, pois a interrupção era do trabalho e esta era a prioridade da secretária. Todos entenderam o recado de que o trabalho era uma prioridade quando, num gesto meticuloso, arrumou os óculos de secretária com as duas mãos. Mas inegavelmente lamentava a interrupção da tão estimulante pauta.

Após tantos assuntos começados e interrompidos, chegou, por fim, meu atrasado amigo, que me acompanharia na reunião com o vereador. Ele era mais dado a conversas do que eu e, tal como previ, não tardou a fazer brilhar os olhos da secretária novamente por uma nova e excitante conversa de novos e anônimos amigos. Vi que o momento se aproximava quando, por algum motivo, o silêncio se fez na sala. Era o olho do furacão. Aquele silêncio escatológico, prenúncio de inspirações que acalentavam a falta de sentido, trazia consigo um horror metafísico. Os conversadores odeiam o silêncio. E a secretária apressou-se:

– Deu uma refrescada né? De manhã tava frio, eu sai de casaco!

– Sim, é verdade. Mas vai esfriar amanhã – disse o meu amigo prontamente.

– Na verdade – eu que estava relutante não resisti e entrei na conversa com tudo! – vi na previsão do tempo que amanhã vai chover. Mas só amanhã, pois no fim de semana para e volta a chover só terça-feira. Se bem que isso pode mudar.

– Ah é? Acho que agora só vai esfriar né?

Então, meu amigo, com um sorriso, tratou de dar um upgrade à conversa:

– E eu vou pra Curitiba no fim de semana!

O rosto da secretária iluminou-se e abriu um sorriso:

– Ahh! Lá é friozinho né?! – e nós balançávamos efusivamente a cabeça em reforço e certeza daquele juízo tão verdadeiro. Então cada um tinha uma história em que saiu de Florianópolis com pouca roupa e chegara a Curitiba passando frio tão logo entardecesse. Eu tinha a minha.

– Isso em Dezembro! – acrescentei à história que me coube.

Nossa, é verdade! – afirmávamos todos concordando tão satisfeitos um com o outro que nada nos parecia poder separar. Estávamos de almas tão unidas e consciências tão apegadas à verdade dos fatos e da vida, que já imaginávamos quais, dentre tantos outros assuntos, nos poderiam unir. E assim foi também sobre a cidade de Curitiba e suas belezas, sua organização, parques, peculiaridades que listávamos tão alegremente. Quando falamos sobre os tantos cafés daquela cidade, objetamos que Florianópolis também tinha. Então a secretária, duvidando que a nossa cidade tivesse tantos cafés quanto Curitiba, disse decidida e interessada, cruzando os braços e franzindo os olhos por causa do frio:

– Tá! Então vamos ver quais cafés temos aqui! – pôs a mão aberta sobre a mesa e olhou em volta, como se fosse pegar um papel e começar a listar. Estávamos agora com uma tarefa, um trabalho em comum, um projeto, um objetivo de vida. Ah, sim, um sentido! Não obstante, sorríamos às vezes em descrença daquela parceria, achando bobagem tudo aquilo. Mas continuávamos. Éramos, todos ali, amigos para sempre, confirmavam os olhos da secretária. Amigos de infância. E empolgada, começava:

– Tem a Lagoa, aqueles cafés que enchem de gente: tu não pode nem entrar naquelas ruas… Mas tem outros. No centro tem o que? Vamos lá. A Chuvisco, não tem outra!

O meu amigo chamou atenção para o bairro Santo Antônio de Lisboa e o Sambaqui. A secretária concordou, mas disse que quando ela e a família vão lá, só vão em um restaurante e não noutros.

– Aí tem aqueles que tu paga os olhos da cara por um bolinho, aí é ruim, né gente? – e fez uma careta sorrindo.

– É verdade! – concordei. E contei uma história de um restaurante português em que o bolinho de bacalhau custava oito reais.

– Que isso, gente! – dizia a secretária e não hesitava em achar graça dos absurdos.

Então a TV nos roubou da conversa. Um filme estava passando na Sessão da Tarde e parecia muito interessante. Eu lamentei e fiquei aliviado ao mesmo tempo. Sempre tive a impressão de que quando nos aprofundamos demais em conversas de anônima empatia, nos tornamos demasiado íntimos e é como se violássemos nossa intimidade em um excesso perturbador e ao mesmo tempo sedutor. É o prazer de uma união racional sem obrigação em gestar uma grande amizade. Frequentemente, fazemos amizades que evoluem e se tornam grandes. Aquela secretária, como tantas pessoas do cotidiano urbano, parecia fadada a nunca chegar a esses termos. Por isso, acostumava-se com aquelas alegrias que nunca progrediam ou transcendiam, como se mendigasse sorrisos e alegres, mas míseras concordâncias. Mas ela não parecia sentir nenhum remorso pela perda de uma nova palavra simpática, porque um novo chegava e de novo e de novo. Seu dia era cheio de afeto humano gratuito que vinha de todos os lugares para onde olhasse. Essa vida de íntimas interrupções cria amarguras a muita gente, pensei. Mas não a essa secretária, que embora perdesse de vista um sorriso ou olhar de amizade todos os dias, satisfazia-se sabendo que o fez por merecer, pois não lhe falta amor na vida. Aquelas pessoas a quem falta amor, ou que assim acreditaram, não conseguem suportar afagos insuficientes.

Em pouco tempo, um homem entrou na sala e foi ter com a secretária. Eu e meu amigo cuidamos entre nós de outros assuntos. A relação com a secretária parecia terminada. Tantas afinidades, tantas alegrias e sorrisos e agora nada. Cada um voltava aos seus afazeres. Finalmente nos iam chamar para nossa audiência.

Da saída da recepção, pudemos ouvir um assunto se iniciar.

– Deu uma refrescada né? Hoje de manhã eu saí de casa de casaco, imagina!

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Cristian Derosa

Cristian Derosa

Jornalista, mestre em Fundamentos do Jornalismo (UFSC), autor dos livros: "A transformação social: como a mídia de massa se tornou uma máquina de propaganda"(2016), "Fake News: quando os jornais fingem fazer jornalismo"(2019) e "Fanáticos por poder: esquerda, globalistas, China e as reais ameaças além da pandemia" (2020) e "Fake Check: a máfia por trás da censura" (2021). Co-fundador e editor do site Estudos Nacionais, Agência EN, desde 2016, e editor-adjunto no jornal Brasil Sem Medo (BSM) desde 2021.

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