A opinião pública tem se tornado cada vez mais hostil ao catolicismo, tanto na esquerda, com o progressismo e modernismo militantes, quanto na direita, quando conservadores cada vez mais sedentos por participar dos debates e ocupar espaços públicos acabam colaborando com parcelas sutis das agendas revolucionárias. Uma atuação política que põe acima de tudo o diálogo ao invés da Verdade, um ecletismo de base conciliatória no lugar da busca pela integridade e da firmeza da defesa da fé, acabaram levando movimentos conservadores a uma política que não coopera com a graça santificante reservada a Deus para a Sua Igreja, por meio dos seus Sacramentos impressos na estrutura da realidade como forma de auxílio ao homem. Esta falta de cooperação produziu um efeito desastroso em todas as iniciativas de resistência ao avanço dos movimentos revolucionários. Prisões, censuras e perseguições a conservadores são o resultado menos notório, sendo a pior delas a apropriação de todas as eventuais vitórias contra a mentalidade do mundo moderno por movimentos igualmente revolucionários como a ideologia russa do eurasianismo, os movimentos revolucionários e terroristas islâmicos, o tradicionalismo perenialista de base gnóstica. Sem contar na vantagem concedida à própria esquerda diante do flerte conservador com movimentos neofascistas, que se tornarão facilmente criminalizados — e com a devida razão.


Mas o principal resultado negativo desta tibieza de católicos e conservadores em geral, que se entregaram a cooperações espiritualmente perigosas, é que o ostracismo da verdadeira voz católica, aquela que professa radicalmente o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo através da defesa da Santa Igreja Católica. 


A voz católica ficou confinada nas linguagens personalistas do clero atual ou na dos tradicionalistas sedevacantistas ou cismáticos, membros de uma falsa igreja que se vale da piedade de católicos incautos para arrastá-los para fora dos sacramentos. Esta Igreja, representada entre outros por aqueles que consideram a Sede Romana pós-conciliar como não-católica, são falsos pela simples e óbvia verdade de estarem em rebelião contra a sede da jurisdição espiritual legítima, cuja hierarquia foi erigida pelo próprio Cristo quando disse: “Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja”.


A rebelião, portanto, se manifesta tanto na esquerda revolucionária de caráter universalista e obviamente satânico, quanto na síntese igualmente revolucionária da gnose igualitária e “multipolar”, cuja premissa anti-universalista apenas parece combater o universalismo ocidental liberal. Seu verdadeiro adversário e alvo é a universalidade de Roma. Não por acaso, sugerem uma “Terceira Roma” com sede em Moscou.


Ambos os adversários da fé católica representam nada menos que a tentação de Cristo no deserto, aquela na qual o demônio ofereceu os reinos deste mundo. Nela caem direita e esquerda, conservadores e revolucionários que negam a jurisdição espiritual da Santa Igreja em nome de um retorno à “tradição”. Por razões cujo alerta e exposição fazem parte da meta desta publicação, estes novos proponentes da “tradição” advogam, na verdade, a tradição da serpente, isto é, as mil e uma cabeças ou tradições de um relativismo perenialista e gnóstico de autoria da Antiga Serpente, velha inimiga da Igreja e da Descendência da Mulher.



Liberalismo e antiliberalismo moderno: duas faces da mesma moeda


A Igreja e seus inimigos


Este afã da conquista do mundo se dá, de um lado, (1) pela agenda globalista das elites que dominaram o Ocidente através da subversão dos valores cristãos, do liberalismo e seu hedonismo manifesto nas doutrinas igualitárias e libertárias que esvaziaram a fé católica gerando uma explosão de ódio contra todos os símbolos cristãos na cultura, terminando por regimes totalitários baseados no mesmo ódio à Igreja por meio do ateísmo revolucionário. Por fim, esta corrente se tornou, durante os últimos séculos, o único paradigma permitido, sendo o utilitarismo a forma característica de interpretação da vida humana e de sua função meramente material e animal, o que terminou por reduzir as comunidades cristãs a abstrações como cidadania da sociedade moderna. Por esta via, deu-se a mais abrangente fragmentação do ser humano, iniciada pela separação cartesiana entre corpo e alma, mente e corpo, provenientes das revolucionárias teorias iniciadas nas ideias iluministas e protestantes.


No entanto, todo o materialismo utilitarista do liberalismo terminou por trazer ao mundo um espiritualismo desordenado e caótico, cujas raízes são encontradas nas heresias que originaram as especulações filosóficas modernas. O movimento New Age se apresentou como solução pós-moderna para o vazio da técnica e da razão moderna, terminando por desarraigar ainda mais o homem ocidental da fé católica. Mas se o desenvolvimento técnico e científico que se orientou pelas máximas da modernidade e pós-modernidade aprofundaram ainda mais este vazio no final do século passado, o processo revolucionário e sua dinâmica para o mal ofereceu novamente o veneno do espiritualismo orientalista em uma dose ainda mais poderosa.


(2) São os atuais proponentes de um retorno ao espírito contra o materialismo do mundo moderno, representados especialmente pelo orientalismo, pelo tradicionalismo perenialista, de origem gnóstica, e da ideologia eurasiana vinda da Rússia, que se tornam, em nossos dias, os catalizadores do novo estágio da Revolução: a utopia igualitária do mundo multipolar, que relativiza a Verdade e opõe-se à Igreja Católica, colocando-se como suposta luz de uma nova era superadora da “Era do Logos”, ou seja, uma corrente ligada às doutrinas metafísicas esotéricas associadas ao caos, de base satânica.


As duas correntes expostas aqui, a do globalismo ocidental e a da gnose tradicionalista, inscrevem-se no mesmo paradigma esotérico-espiritualista iniciado com o Iluminismo, cuja principal função foi erodir o mundo medieval e toda a simbologia cristã impressa na civilização ocidental.


É igualmente contra essas duas correntes que esta publicação se insurge, com especial atenção à última delas: a do neofascismo espiritualista e neopagão, que aliado da gnose tradicionalista traz em suas fileiras um dos inimigos mais perigosos da cristandade: o islamismo. Há razões de sobra para um foco mais pormenorizado no alerta sobre as tradições perenialistas, uma vez que estas correntes se disfarçam de maneira sutil na estética e no imaginário católico ocidental por meio de uma sedução de retorno às tradições ou de resistência contra o mundo moderno


Acreditando, porém, que toda resistência contra o mundo moderno, toda tradição e todo o espírito só pode vir e estar inscrito na verdadeira e única jurisdição espiritual neste mundo, a Santa Igreja Católica, esta publicação se destina a uma defesa intransigente e radical, confiante e piedosa da tradição verdadeira, o que não fará sem o auxílio da Mãe de Deus, Mãe da Igreja, Senhora Auxiliadora dos Cristãos, a verdadeira e inconfundível identidade católica, a Rainha dos Santos e dos Anjos.


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