Desde o início da guerra da Ucrânia, não foram poucos os católicos conservadores que passaram a ostentar certa simpatia a Vladimir Putin e a Rússia. Essa postura foi determinada em grande parte pelo combate russo às agendas LGBT no país e certas críticas públicas feitas por Putin sobre o Ocidente e o liberalismo, repetindo muitas das críticas conservadoras ao globalismo ocidental. Como sabemos, isso é parte da estratégia atual da Rússia, baseada em hipóteses lançadas há décadas por nomes como Francis Yorkey que recomendava a união entre fascistas e comunistas contra a hegemonia norte-americana e a ordem liberal.
O curioso é que entre os conservadores antiliberais, muitos deles que se apresentam como tradicionalistas católicos, é sabida a influência soviética na Igreja Católica para a construção da teologia da libertação. No entanto, baseados em pressupostos claramente liberais e democráticos ocidentais, custam a acreditar que o regime de Putin seja uma continuação do mesmo regime soviético, como se o governo que evoca o passado do império russo como justificativa de seu expansionismo visse a URSS como uma página virada de governos anteriores. Eles parecem acreditar ingenuamente que a Queda do Muro foi o fim daquela ideologia revolucionária e que a Rússia, hoje, é algo completamente diferente e até mesmo oposto.
Esses conservadores gostam muito de recordar as proibições de católicos se associarem ao comunismo, assim como à maçonaria. Mas esquecem de relacionar isso a um sentido mais amplo: o da simpatia ou colaboração, direta ou indireta, com inimigos formais ou sutis que conspiram contra a Igreja, proibição diretamente exposta no Código de Direito Canônico. Falamos disso na Coluna EN desta semana, no artigo Católicos pró-Rússia podem estar excomungados?
Nos últimos anos, vimos até mesmo membros da hierarquia católica, como Monsenhor Carlo Maria Vicanó, aderir formalmente ao discurso russo de simpatia à agenda russófila global. Por dever de caridade, optamos por acreditar que Vicanó não conhece nada das ideias de Dugin, um ocultista anticatólico convicto. Vejamos quais ações diretas e indiretas oriundas do Kremlin ou dos agentes pro-Rússia no Ocidente, repetem o anticatolicismo dos movimentos revolucionários do passado. Comecemos pelas ideias anticatólicas de Dugin e seus seguidores espalhados por diversas partes do mundo.
Considerando os principais ataques anticatólicos vindos da Rússia atualmente, iniciaremos pelas declarações e ideias de Aleksander Dugin, passando pelos discursos públicos e, por fim, as ações do próprio Kremlin, incluindo a Igreja Ortodoxa Russa no sentido de limitar ou sabotar a influência da Igreja Católica no mundo. Por fim, analisa-se as redes esotéricas, essencialmente anticristãs, que têm se envolvido na mesma trincheira em favor da Rússia e da nova utopia igualitária multipolar.
As ideias anticatólicas de Dugin
Como nossos leitores sabem, Dugin é o ideólogo russo fundador do neoeurasianismo, corrente que prega a união geopolítica da Eurásia liderada pela Rússia contra o “Ocidente atlantista”. Em sua visão, a Rússia representa o verdadeiro guardião do Cristianismo autêntico (a Ortodoxia), devendo liderar uma civilização eurasiática contra os valores “atlânticos” modernoskeywiki.org. Dugin tem produzido livros e pronunciamentos públicos denunciando a “decadência” ocidental – que inclui o liberalismo, o secularismo e, em suas palavras, o “catolicismo ocidental” – propondo em contrapartida um modelo comunitarista, anticapitalista e autocrático. Embora lute contra o que chama de “modernidade liberal”, Dugin é também adepto de vertentes esotéricas (influenciado por Julius Evola, René Guénon, Aleister Crowley etc). e critica frontalmente a Igreja Católica Romana como bastião do Ocidente politizado.
O primeiro aspecto anticatólico do discurso russo contemporâneo pode ser resumido no termo “Terceira Roma”, uma evidente afronta à Igreja Católica porque desafia diretamente a primazia espiritual e histórica do papado romano. Historicamente, a Primeira Roma refere-se à cidade de Roma, centro do Império Romano e sede da Igreja Católica. A Segunda Roma é Constantinopla, capital do Império Bizantino e do cristianismo ortodoxo oriental. Após a queda de Constantinopla em 1453, surgiu a ideia de que Moscou seria a Terceira Roma, sucedendo as anteriores como novo centro do cristianismo. Essa concepção foi articulada pelo monge russo Filoteu no século XVI, que declarou: “Duas Romas caíram, a terceira está de pé e a quarta não haverá”. Para saber mais sobre esse termo e suas implicações, leia o artigo: Erros da Rússia: A terceira roma e a marca da Besta.
O termo não é apenas uma referência geopolítica, mas uma afirmação teológica e ideológica que contesta a centralidade e a autoridade da Igreja Católica, sendo por isso considerado uma afronta significativa e um ataque à verdadeira religião.
Discursos e Publicações Anticatólicas de Dugin (2015–2025)
Nos últimos dez anos Dugin manteve linha consistente de críticas ao catolicismo ocidental e ao Papa, usando diversos meios (palestras, livros, entrevistas em canais afins ao Kremlin). Em entrevistas e textos ele chegou a qualificar o catolicismo de “criação” (no sentido teológico de que Jesus seria mero enviado) e portanto inimigo do “verdadeiro Cristianismo”( no link: europeanconservative.com). Em dezembro de 2022, por exemplo, ao comentar o fim do Mandato Papal ou qualquer mudança doutrinária, Dugin tuitou: “If Vatican chooses liberal Papa the final split of Catholic Church is imminent” (30 abr. 2025). Embora este tweet não esteja disponível em fontes arquivadas, ilustra seu receio de que um papa liberal conduza a cisma final da Igreja (literalmente “se o Vaticano escolher papa liberal, a separação final da Igreja Católica é iminente”).
Em escritos mais antigos, notoriamente na entrevista de 1998 à revista polonesa Fronda, Dugin defendeu abertamente que para derrotar o Ocidente a Igreja Católica deveria ser “destruída por dentro”. Ele propôs reforçar a maçonaria polonesa, fomentar movimentos leigos “dissolutos” e promover uma forma de cristianismo heterodoxo e antipapista para corroer o catolicismo tradicional (outono.net). Segundo Dugin, o catolicismo romano jamais poderia ser “absorvido” pela tradição eslava a menos que se tornasse nacionalista e anti-papistaoutono.net. Um trecho emblemático dessa entrevista registra Dugin afirmando:
“É necessário destruir o catolicismo de dentro, para isso deve-se fortalecer a maçonaria polonesa, apoiar certos movimentos leigos decadentes, promover um cristianismo heterodoxo e antipapista. O catolicismo nunca poderá ser absorvido em nossa tradição a menos que adquira um caráter nacionalista e antipapista. (…) Pessoas semelhantes seriam capazes de demolir o catolicismo por dentro e reorientá-lo para algo mais heterodoxo e mesmo esotérico” (outono.net).
Além disso, Dugin já declarou apreciar correntes “anticatólicas” da Polônia, incluindo maçons e ocultistas poloneses do século XX. Em outra entrevista propagada pela mídia pró-Kremlin, o ideólogo chegou a receber inspiração de figuras marxistas (feliks Dzierżyński, criador da Cheka) entre suas “correntes anti-católicas” favoritas, ressaltando o ecletismo ideológico do duginismo. Em linhas gerais, ele descreve a guerra da Rússia contra a Ucrânia como um conflito “apocalíptico” contra o Ocidente atlantista (o que para ele inclui o Papa e a Igreja). Leia sobre isso em: mail.traditioninaction.org; europeanconservative.com.
Criticando o Papa Francisco em múltiplas ocasiões, Dugin chegou a acusá-lo de ser um instrumento do “novo mundialismo” e até defendeu que o clero romântico deveria ser substituído por outras correntes religiosas. Em 2024-2025 suas declarações públicas, frequentemente divulgadas em perfis oficiais (como seu canal no Telegram), repetiram ataques velados à Igreja Católica: por exemplo, em abril de 2025 Dugin declarou que um Papa liberal provocaria o “fim” da unidade católica mundial. É claro que essa afirmação, além de possivelmente verdadeira, agrada o setor tradicionalista da Igreja, que um dos alvos de cooptação de Dugin e sua agenda esotérica tradicionalista. O que ele nao dirá é que um clero tradicionalista nos termos perenialistas (Guénon/Dugin) não apenas dará fim à unidade católica como produzirá um cisma.
Embora entrevistas e aparições de Dugin em mídia russa (“Geopolitika” canal, Rádio Spása etc.) não sejam facilmente acessíveis, seu repertório de frases anticatólicas e antipapistas está bem documentado por terceiros.
Campanhas e mídias Pró-Kremlin
Além das declarações diretas de Dugin, agentes pró-Rússia e redes eurasianistas organizaram campanhas anticatólicas em mídias e fóruns alinhados ao Kremlin. A emissora estatal russa RT e agências como Sputnik têm publicado artigos exaltando narrativas antiocidentais que pintam a Igreja Católica como “fachada do imperialismo liberal”. O revolucionário Dugin chegou a ser festejado em órgãos ortodoxistas, como o canal televisivo Spas ou a página PolitRussia.ru, por criticar líderes católicos (embora fontes primárias nesses meios sejam restritas).
Um exemplo de repercussão foi em abril de 2023, quando o cardeal alemão Gerhard Müller, falando em evento na Polônia, citou diretamente discurso de Dugin: “se conseguirmos destruir a Igreja Católica na Polônia, a Rússia poderá subjugar nosso país e toda a Europa” (fitzinfo.net). Esse alerta (replicado pela imprensa católica polonesa) reflete o temor de que, segundo Müller, Dugin considera o catolicismo polonês uma barreira geopolítica que deve ser removida. Como vimos, Dugin recomendou aos eurasianos poloneses apoiarem a maçonaria como forma de limitar o crescimento católico.
No Oriente Médio, redes filiadas ao Kremlin (como a organização Holy Rus’ – Rus Patriarchate-backed) também veem a expansão católica como concorrência da Ortodoxia. Patriarcados filo-russos acusaram autoridades católicas de se aliar a potências ocidentais. Embora não haja campanhas explícitas anticatólicas de grupos russos no mundo árabe documentadas em fontes abertas (além de desinformação sobre direitos reprodutivos promovida pela mídia estatal), a influência russa em comunidades cristãs locais funciona via pressão à Igreja Católica Oriental e via sociedade interreligiosa pró-Moscou.
O fato inegável é que a Rússia utiliza o liberalismo e progressismo (infiltrados por eles mesmos no Ocidente e na Igreja) para, agora, deslegitimar toda a sua influência. Acontece que a Igreja, sendo ela progressista ou não, permanece como instituição sagrada criada por Nosso Senhor Jesus Cristo e não um organismo que possa ou deva ser desfeito pelo bem do mundo. Ao contrário, sem ela o mundo ruirá mais rápido do que um relâmpago.
Agora analisemos em os lugares e a maneira pela qual a Rússia utiliza sua rede de contatos para sabotar, de alguma maneira, o discurso ou a influência católica. Importante ressaltar que, embora a maioria das redes não se digam abertamente anticatólicas, elas dizem combater o “liberalismo”, um mal que de fato foi infiltrado na Igreja, assim como em todo o Ocidente (e na Rússia, diga-se), mas que vem sendo utilizado como manobra para acusação e justificação de ataques e sabotagens ideológicas. A única força que pode, e deve, combater legitimamente o liberalismo, é a Igreja Católica. Quem o fizer direcionando o ataque à Igreja está agindo contra a Igreja e não contra o liberalismo.
América Latina
Nos últimos anos surgiram grupos de direita continental inspirados por Dugin. No Brasil, o movimento Nova Resistência (liderado por Raphael Machado) publicou vários artigos pró-Putin e eurasianistas, recomendando até leitura de Dugin. Relatório do governo dos EUA mostrou que o site da Nova Resistência, hospedado em Moscou, republica material pró-Rússia (incluindo textos de Dugin) (traditionalistblog.blogspot.com).
Em 2023, o chanceler russo Lavrov participou de uma “Conferência Global sobre Multipolaridade” online organizada por Nova Resistência em conjunto com o Movimento Eurasianista de Dugin e outros grupos russófilos. Outras redes latino-americanas afiliadas ao duginismo mencionadas incluem a Plataforma Multipolar (Argentina), Coordinadora Nacional Tempestista (México), Vanguardia Nacional (Colômbia), Círculo Patriótico (Chile), além de centros sincréticos no Peru.
Essas redes não são necessariamente anticatólicas por ideologia, mas apoiam narrativas anti-liberais aliadas à Rússia; seus líderes (alguns ex-evolianos) têm publicado críticas veladas ao secularismo ocidental e às políticas sociais de papas (aborto, família) como parte do “ocaso” do Ocidente.
Estados Unidos
Nos EUA não há grande corrente aberta de duginismo anticatólico; porém, elementos ultra-conservadores pró-Rússia (grupos identitários e eurasianistas) passaram a citar Dugin em círculos alt-right, especialmente após 2022. Organizações como o Center for Syncretic Studies (projeto de David Goldman), ligado à Nova Direita, e blogs identificados com o Conservadorismo Católico às vezes repassaram ideias duginistas sobre multipolaridade. Embora muitos conservadores católicos americanos condenem Dugin, houveram encontros isolados (antes da guerra) entre radicais ortodoxos russos e ativistas de direita americanos, em fóruns de “conservadores dissidentes” (p. ex. a conferência de San Pietroburgo em 2022). No geral, contudo, Dugin tem mais receptividade em círculos ultranacionalistas do que em comunidades católicas tradicionais americanas.
Europa
Na Europa Oriental (Polônia, Hungria, etc.) e Rússia, os ataques a Roma são explícitos. Em fevereiro de 2023, por exemplo, Dugin saudou publicamente o novo governo polonês ultraconservador e afirmou que a Igreja Católica polonesa fazia parte de um “complexo atlântico” a ser quebrado (publicação em site de tradutores de Dugin). Em fóruns poloneses on-line, seguidores de Dugin e do partido nacionalista Konfederacja frequentemente apontam o Papa e Roma como cúmplices da agenda liberal ocidental. Na Europa Ocidental (Itália, França, Alemanha), políticos de extrema-direita (Lega, AfD, Rassemblement National) têm por vezes recebido propaganda russa, mas não há campanha sistemática anti-Igreja; vale dizer que muitos desses grupos são católicos conservadores e simpáticos ao Papa, de modo que Dugin concentra críticas ao “Papa globalista” (como chamava Francisco) ou às “doutrinas ocidentais”.
Europa Oriental e Eurásia:
Na Rússia e em ortodoxos satélites (Bielorrússia, Sérvia), a Igreja Ortodoxa tem tratado o catolicismo como último reduto de influência ocidental. Igor danil, teólogo russo, recentemente acusou abertamente o Vaticano de espionagem cultural. Mídias como Rassvet (Sunrise) ou Tsargrad TV reproduzem argumentos duginistas de que o Papado coordena a “revolução moral” global. Em 2021-22, militares ucranianos da Igreja greco-católica foram pintados pela propaganda russa como “traidores católicos vendidos a Washington”, numa linha de calúnia anticatólica.
Oriente Médio:
Embora a presença russa no Oriente Médio seja maior entre cristãos ortodoxos (Síria, Líbano), interesses geopolíticos levaram Moscou a criticar discretamente missionários católicos como parte das “interferências ocidentais”. Isso se reflete em declarações de igrejas greco-católicas locais sob pressão de grupos filo-russos, e em financiamentos patriarcais ortodoxos para comunidades cristãs orientais rivais. Contudo, não há registros públicos de campanhas explícitas pró-Dugin anticatólicas no Oriente Médio comparáveis às de outras regiões.
Redes Ideológicas Pró-Rússia e Conexões Esotéricas
A ideologia duginista não opera isoladamente, mas em rede com grupos e pensadores do “mundo multipolar”. Destacam-se:
Movimento Eurasianista Internacional (IEM): fundado por Dugin, congrega intelectuais, militares e políticos favoráveis à eurasianização. Organiza conferências (“Fórum da Multipolaridade”) e publica materiais influentes. O próprio Dugin e membros do IEM mantêm parcerias tácitas com certos círculos radicalmente ortodoxos russos.
Clubes de Ideólogos Russos: Izborsky Club (liderado pelo empresário patriota Konstantin Malofeev) e o World Russian People’s Council em geral compartilham o discurso antipatológico ocidental de Dugin. Esses grupos não declaram formalmente hostilidade ao catolicismo, mas rejeitam “liberalismo papal” e valorizam uma ortodoxia nacionalista.
Nacional-bolchevistas e Ultraconservadores: Figuras como Eduard Limonov (in memoriam) e o partido Drugaia Rossia (hoje Siloviki/“Força da Rússia”) misturam nacionalismo pós-soviético e ódio ao Ocidente. Seus membros (ex-Limonovistas) às vezes ecoam Dugin chamando o Vaticano de inimigo por ter apoiado movimentos democráticos (na Guerra Fria). Embora esses grupos não sejam estatutariamente religiosos, muitas de suas campanhas de propaganda às vezes usam linguagem anticatólica.
Radicais Ortodoxos/Tradições Russas: Segmentos saudosistas do “Rodnoverie” (paganismo eslavo renovado) e do movimento dos “Velhos Crentes” incorporam temas antiocidentais semelhantes. Dugin filiou-se em 1999 aos Velhos Crentes, vendo neles “elementos esotéricos puros” do cristianismo russo. Entre irmãos em fé, circulam conspirações que ligam o Vaticano a Maçonaria e cabala – temas caros aos grupos teosóficos de Dugin.
Revolucionários Sociais-Conservadores: Nos últimos anos surgiram dezenas de associações nacionalistas em várias ex-repúblicas soviéticas (Cazaquistão, Geórgia, Armênia etc.) filiadas ao ideário eurasiático. Muitas delas se associam a sociedades “iniciáticas” locais: por exemplo, conhecem-se envolvimentos de membros do Movimento Eurasianista em grupos alternativos que citam Guénon, Hugo de São Víctor ou sociedades pitagóricas de ocultismo.
No plano esotérico, Dugin admite inspirar-se em correntes ocultistas. Ele venerou Aleister Crowley e gravou vídeos ritualísticos em sua homenagemeuropeanconservative.com. Em palestras privadas, citou Guénon (que comparava a Igreja Católica a algo a ser “submetido” ao Sufismo) e afirmou buscar uma “Cristianidade autenticamente pagã” pela via da magia. Sua própria “Manifesto dos Novos Magos” (1995) convocava integração de ritual e política. Quanto à maçonaria, as próprias palavras de Dugin deixam claro que ele via essas ordens como instrumentos de infiltração: em 1998 sugeriu fortalecer a maçonaria polonesa para facilitar o enfraquecimento da Igreja.
Apesar disso, não existem registros públicos de Dugin ou de seguidores formais filiados a lojas maçônicas ou sociedades satânicas – suas conexões com o oculto são sobretudo ideacionais. De fato, Dugin demonstrou ambivalência: por um lado, recomendava “destruir o catolicismo por dentro” via redes iniciáticas (maçons, sociedades esotéricas)outono.net; por outro, pregou abertamente um sincretismo “esquerdista-ortodoxo” que em teoria rejeita a herança travestida de Renascimento católico.
Citando Fontes e Eventos Relevantes
Declarações de Dugin: Discursos antigos e recentes estão registrados em entrevistas e textos disponíveis online. Um exemplo notório é a citação de 1998: “É necessário destruir o catolicismo de dentro, fortalecendo a maçonaria polonesa… promovendo um cristianismo heterodoxo e antipapista”outono.net. Em 2023, Cardeal Gerhard Müller resumiu essa tese: “Dugin afirma que para a Rússia derrotar a Polônia, a Igreja Católica polonesa deve primeiro ser destruída”fitzinfo.net. Outro trecho extraído de análise do próprio Dugin indica que ele via o catolicismo ocidental como criação e, portanto, “inimigo do verdadeiro cristianismo”europeanconservative.com.
Eventos e Conferências: Em outubro de 2023 o chanceler Sergey Lavrov participou de conferência on-line sobre “multipolaridade” organizada por círculos duginistas (Nova Resistência, IEM, Movimento Intern. de Russófilos)traditionalistblog.blogspot.com. Nessas conferências, aparecem palestras de seguidores de Dugin criticando abertamente a influência vaticana na política ocidental.
Publicações e Mídias: Nos dez últimos anos, sites conservadores brasileiros como Nova Resistência e Os Amigos do Conde republicaram artigos e traduções de Dugin elogiando Putin e atacando o mundo “liberal” (incluindo o liberalismo católico). Em 2020-22, o Global Engagement Center do Departamento de Estado dos EUA identificou a Nova Resistência como veículo de propaganda russa, notando que seu conteúdo antiocidental (eúsia antiamericano) de fato refletia o duginismotraditionalistblog.blogspot.comtraditionalistblog.blogspot.com. Em plataformas sociais, Dugin e discípulos também compartilharam memes comparando papas a “Agentes do Globalismo” e acusando líderes católicos de servir à NWO (Nova Ordem Mundial).
A volta da conjuração anticristã
Nos últimos dez anos, os círculos eurasianistas e pró-Kremlin a que Dugin está ligado intensificaram retóricas contra o catolicismo romano. Em fóruns e mídias alinhadas a Moscou, a Igreja Católica é pintada como instrumento central do “Ocidente liberal” a ser combatido. Discípulos de Dugin têm articulado essa narrativa em palestras e publicações: desde a sugestão de infiltrar a maçonaria na Polônia até denúncias do Papa como líder de uma conspiração pós-moderna. As campanhas não se restringem à Rússia: o influente relatório norte-americano sobre Nova Resistência documenta redes globais (LatAm e Europa) que propagam ideias duginistas e associam o Vaticano à “agenda globalista”. Embora tais grupos se digam ultraconservadores religiosos, na prática muitos deles justificam alianças táticas – até com a maçonaria ou ocultismo – para atingir objetivos geopolíticos, dando aos ataques contra o catolicismo um viés teológico e “civilizacional”.
Desde a obra A Conjuração Anticristã, de Mons. Henri Delassus, a denúncia do intuito maçônico de secularização não escondeu as intenções ocultas de um espiritualismo marginal e gnóstico. De início, a melhor forma de fazer isso era substituir os fundamentos espirituais da Igreja Católica por uma ordem secular e racionalista. Paralela e dialeticamente, o espiritualismo livre e igualitário crescia no horizonte ocidental através da cultura e das artes, sem deixar de fora debates inter-religiosos conduzidos secretamente por seitas abertamente satânicas. A crítica à modernidade foi sabiamente instrumentalizada pela visão de René Guénon, que via a modernidade como uma degeneração espiritual, propondo o retorno a princípios tradicionais universais — o perenialismo. Sua sugestão era que a Igreja deveria se submeter à maçonaria ou ao Islã, únicos resquícios que sobraram de alguma tradição. Guénon influenciou pensadores como Julius Evola e, posteriormente, Aleksandr Dugin, que incorporou essas ideias em sua Quarta Teoria Política. Através do sonho russo da era de iluminação conduzida pelo seu império, a Terceira Roma serviu muito bem para a ideologia de Dugin, que propõe uma ordem mundial multipolar, contrapondo-se ao globalismo liberal ocidental para, supostamente, restaurar “valores tradicionais e espirituais” como base para a civilização. Assim, há uma linha de pensamento que conecta a crítica à modernidade e à secularização, passando pela maçonaria, perenialismo e culminando na proposta de Dugin para uma nova ordem mundial baseada em princípios tradicionais.
O igualitarismo multipolar propõe uma nova epistemologia onde a verdade é propriedade de cada civilização e cultura, religiosidade de senso de “sagrado”, abrindo a porta para o caos espiritual. Acreditando na existência de uma “tradição primordial” (Guénon) os multipolares defendem a liberdade para todas as tradições. Mas será mesmo que este é o único caminho contra a hegemonia liberal do globalismo?
Os católicos verdadeiros e não indiferentistas sabem muito bem que só existem duas tradições: a da Mulher e a da Serpente. Assim, também só existem duas cidades, a de Deus e a dos Homens. A mesma coisa se referiu Leão XIII, quando falou dos Filhos da Luz e os Filhos das Trevas. Assim, Revolução e Contra-Revolução precisam de um choque ou estarão amalgamados de maneira a dar toda a vantagem para os filhos das Trevas.
Fontes principais
Entrevistas e livros de Dugin (1990–2025), reportagens católicas (Fronda), análises conservadoras (First Things/The European Conservative), blogs e relatórios investigativos (GC ER/Nova Resistência), e traduções dos próprios textos de Duginoutono.netfitzinfo.neteuropeanconservative.comtraditionalistblog.blogspot.com. Estas fontes documentam publicamente suas campanhas contra o catolicismo e as redes que o acompanham, incluindo citações diretas e datas sempre que possível.