Samira dos Santos de Vargas
Esta é uma abordagem do assunto dos bebês reborn, não como tantas outras que falam do fenômeno de um ponto de vista psicológico e ou psiquiátrico ou mesmo moral e espiritual. Este texto não pretende discorrer sobre como os bebês reborn denotam o vazio existencial em que a sociedade se encontra mergulhada. Fazer isso seria plausível se realmente pessoas comportando-se como se bebês reborn fossem crianças se tratasse de um fato em vias de se normalizar e não de casos excepcionais. Entretanto, o objetivo aqui é analisar, não o caso em si, mas o fenômeno da eclosão repentina dessa pauta nas mídias sociais que resolveram dar ênfase a esses casos como se fossem uma prática comum, largamente disseminada.
Os tais bonecos hiper realistas não são nenhuma novidade. Vem sendo comercializados já a algumas décadas. Bebês reborn, em português, renascidos, surgiram para que mães que perderam seus bebês ainda em fase de gestação ou recém-nascidos pudessem de alguma maneira se consolarem pela perda de seus filhos. São usados como ferramenta terapêutica (ainda que bastante questionável em sua eficácia) para lidar com o luto. Portanto, este fenômeno de mulheres “adotarem” bebês reborn tratando-os como se fossem filhos é algo que realmente ocorre, mas em qual quantidade isso vem acontecendo? Seria em extenção significativa o suficiente para justificar o estardalhaço que vem sendo feito pela mídia nacional nos últimos dias? Se formos rastrear o aparecimento dessa polêmica veremos que não houve nenhum caso estopim envolvendo alguma pessoa que faz uso de um boneco desses ou algo assim que catapultasse o tema.
Curiosamente, da noite para o dia o tópico passou a ser discutido e só então as atenções tem se voltado especialmente para perfis de mulheres em redes sociais que compartilham seu dia a dia como “mães de bebês reborn” em plataformas como Instagram e Tiktok. Valeria a pena pesquisar o número de seguidores que essas contas tinham antes de toda essa polêmica vir a tona como forma de averiguar que de fato tratava-se de algo sem relevância, mas que agora passou a ter status de uma epidemia. Também de uma hora para outra, como em um movimento coordenado, apareceram diversos profissionais relatando em tom alarmista que foram procurados por mães de bebês reborn para que estes recebecem algum serviço ou suposto direito. Advogados relatando pedidos por pensões para bebês reborn, babás se dizendo contratadas para cuidar de bonecos, etc. Relatos de situações que causam desde estranhamento até revolta. Por qual motivo a divulgação disso se deu tão subitamente?
Algumas hipóteses podem ser cogitadas. Há quem acredite que seria apenas cortina de fumaça para distrair a atenção da população de algo que estaria acontecendo simultaneamente como, por exemplo, o escândalo das cobranças indevidas do INSS. A intenção desta breve análise é escavar um pouco mais a fundo do que seria essa hipótese mais óbvia e refletir sobre a quem interessa jogar luz sobre uma questão como a dos bebês reborn, que gera tanta reação e indignação. Trata-se de alguma experiência de engenharia social do tipo PSYOP (abreviação de psychological operations), ou seja, operações psicológicas com finalidade de influenciar a opinião e o comportamento de um grupo ou população?
Há nesse episódio dos bebês reborn um nítido interesse em gerar comoção nas pessoas para que sintam que o mundo a sua volta está saindo de controle e entrando em uma espiral de loucura coletiva que exigiria uma intervenção. A entidade empenhada em criar essa sensação de insegurança social estaria pretendendo com isso emplacar alguma suposta solução para os tais problemas que ela mesma vem tentando promover? O presente caso dos bebês reborn parece sim uma forma de escandalizar a todos mostrando o quão degenerada estaria a nossa sociedade na qual muitas mulheres optam por métodos anticoncepcionais e abortivos para evitarem filhos ao mesmo tempo em que se dedicam a tratar bonecos inanimados como seres humanos.
O assunto é pauta em tantas páginas nas redes sociais que fica o questionamento se essas pessoas que estão ecoando e reagindo à polêmica fazem parte de algum esquema no qual recebem ordens para abordar o tópico ou se apenas passam a falar do mesmo por perceberem que ele irá gerar engajamento e visibilidade por estar em alta no momento.
É o caso de muitos políticos como prefeitos, vereadores e deputados, que estão propondo leis como, por exemplo, para barrar o atendimento de bebês reborn em orgãos públicos, tais como, postos de saúde, onde supostamente pessoas estariam levando esses bonecos para serem atendidos. Ora, um posto de saúde foi criado e é mantido com verbas públicas para atender a pessoas. Logo, se alguém levar, por exemplo, seu cachorro para ser atendido em uma Unidade de Pronto Atendimento, lá chegando será comunicado de que o atendimento não se dará. O mesmo seria suficiente para o caso de alguém cometer o despautério de levar um bebê reborn. Não é necessário que se criem leis para impedir um órgão público de prestar um serviço que já está completamente fora de sua alçada. De modo que um político que propõem algo dessa natureza ou está buscando holofotes ao surfar a onda do momento ou está comprometido em divulgar o assunto, seguindo orientações que lhe foram passadas por alguma liderança oculta para a qual já está trabalhando em cumplicidade ou apenas como um idiota útil.
Assim como ocorre agora com o caso dos bebês reborn, temos visto de alguns anos para cá muitas bizarrices e práticas condenáveis serem exploradas por influenciadores que ganharam palco denunciando-as, em suas cruzadas contra o que ficou conhecido como globalismo ou agenda woke. Esses influenciadores acabam por promover um movimento contrário a toda essa agenda globalista. Só que esse movimento de reação contrária a agenda woke parece estar sendo manipulado para levar a aceitação de uma outra agenda que supostamente restauraria a ordem social perturbada. E para forçar sua aceitação os propagadores dessa agenda concorrente valem-se do expediente de, por baixo dos panos, promover aquilo que combatem, justificando assim sua existência e atuação.
O caso dos bebês reborn parece ser um exemplo dessa estratégia. E muitos são os que contribuem para o avanço dessa tal pauta alternativa, alguns propositalmente, outros inocentemente. Cabe-nos ficarmos atentos para perceber quem é quem entre esses agentes, bem como quem os comanda.