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O histórico papel da “russofobia” e suas versões

O que há de verdade no termo usado por Putin para avançar a expansão russa

19/12/2024
em Artigos EN, Regina Milites
Tempo de Leitura: 8 mins de leitura
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O leitor já deve ter ouvido ou lido por aí o termo “russofobia”. Refere-se a uma narrativa recorrente na geopolítica ocidental fruto de uma postura preventiva contra o expansionismo do Império Russo, mas que teve papel importante durante a Guerra Fria diante da ameaça comunista vinda da União Soviética. No entanto, sem uma compreensão clara da natureza permanente e profunda dos projetos de pan-eslavismo e nacionalismo russos, toda a narrativa da russofobia parece, realmente, um medo injustificado. A narrativa da russofobia, sem a sua devida explicação, faz o urso russo parecer um ursinho de pelúcia indefeso diante de forças malignas e ódios subconscientes ocidentais.

Apesar dessa narrativa, porém, o aumento do apoio à Rússia por parte de intelectuais no Ocidente demonstra o funcionamento de uma velha artimanha revolucionária.

Ao mesmo tempo em que se nota o recurso cada vez mais popular do enaltecimento da Rússia e da figura de Putin como poderosos adversários de um ocidente fraco e submisso, cresce a narrativa de vitimização da “Mãe russa” como uma donzela frágil vilipendiada e ofendida pela brutalidade ocidental. Esse paradoxo é característico das narrativas ideológicas. O discurso obedece às mesmas dinâmicas usadas pelos alemães em relação aos judeus, assim como do antissemitismo contemporâneo em geral, também comum entre os amantes do novo imperialismo russo.

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Como todo termo “fobia”, incluindo homofobia, islamofobia etc, os debates envolvendo tais termos costumam prescindir de racionalidade, focando nos efeitos emocionais e estereotípicos da acusação contra os supostos “fóbicos”, característica dos usos narrativos ideológicos baseados no uso de um rótulo popularmente odioso e depreciativo para desacreditar acusações ou elementos narrativos inconvenientes. Para dar um exemplo do tipo de raciocínio (ou falta dele) envolvendo o uso deste tipo de termo, basta observar quem acusará o presente artigo de uma tentativa de “justificar a russofobia”, sem maiores argumentos ou substituindo eventuais argumentos.

Origem e uso do termo na internet

A história do termo russofobia na internet e na literatura pode esclarecer alguns pontos sobre o uso que teve ao longo dos anos recentes e a sua funcionalidade na narrativa russa atual.

Desde os tempos soviéticos, quando os ditadores comunistas mataram mais de 100 milhões de russos e eslavos dos países vizinhos, incluindo os ucranianos, o Kremlin e seus apoiadores internacionais já alegavam a existência de um “preconceito” dirigido aos russos. Um ódio aparentemente “injustificado” e uma prevenção exagerada na “narrativa anticomunista”, fruto do temor de que os terrores soviéticos invadissem a Europa e o restante do Ocidente. A depreciação e ridicularização do anticomunismo foi particularmente presente na opinião pública nos EUA e até no Brasil durante o período militar, quando a esquerda começava a dominar o ambiente editorial e jornalístico.

Para ver como um preconceito injustificado ou mania de perseguição nonsense, seria preciso ignorar ou fingir ignorar que tal expansão era parte de centenas de milhares de operações dirigidas às mais distantes nações, como o Brasil, que tinham seus partidos comunistas espalhados e coordenados por Moscou comprovadamente.

Ainda assim, esse “preconceito” passou para a história como um fenômeno isolado, sem ser associado a qualquer efeito dos erros da Rússia espalhados pelo mundo.

O termo passou a ser usado pelo próprio Kremlin com o fim de vitimizar-se e justificar as campanhas de invasão que levaram à guerra na Ucrânia. Uma observação mais atenta sobre o uso histórico do termo, nos mostra, porém, que ele sofreu mudanças que coincidem com os projetos russos mais recentes e foi a eles adaptado.

Sua primeira aparição significativa ocorreu na década de 1990, em listas de discussão e fóruns online. Um dos primeiros usos registrados foi em 1996, em debates sobre a política externa dos Estados Unidos em relação à Rússia, particularmente em sites como Usenet. Com o advento dos blogs, no início dos anos 2000, o termo ganhou mais visibilidade. Por exemplo, em 2004, foi amplamente mencionado em artigos que discutiam a expansão da OTAN e as relações russo-europeias. Blogs e sites de opinião como LiveJournal e Medium tornaram-se espaços frequentes para debates, muitas vezes polarizados, sobre o tema.

O uso do termo explodiu após 2014, com a crise na Ucrânia e a anexação da Crimeia. Redes sociais como Twitter e Facebook abrigaram discussões intensas, enquanto portais de notícias como RT e Sputnik destacavam a “russofobia” como parte da narrativa anti-Rússia no Ocidente.

Wikipedia: o oráculo da opinião pública

É na plataforma digital do Wikipedia que mais perfeitamente notamos a evolução da sua definição. Como sabemos, a enciclopédia digital da Wiki pode ser constantemente atualizada pelos seus misteriosos editores, que embora se digam “democráticos”, trabalham sob critérios bastante ambíguos e numa seleção nem sempre imparcial dos fatos. Basta sabermos que há uma verdadeira guerra sigilosa pelo domínio da edição de verbetes que envolvem narrativas ideológicas de grupos e movimentos bem específicos. Mas se aqui começamos pelo uso da Wiki como parâmetro para avaliar as mudanças no uso do termo russofobia, é importante compreender a razão disso.

Recorda o escritor e jornalista Ryan Holliday que a Wikipedia é o microcosmo da cabeça dos jornalistas da imprensa mundial. Influenciar a enciclopédia digital é manipular a cabeça dos jornalistas e, consequentemente, da opinião pública que se informa por eles. Compreende-se facilmente, dessa forma, a razão da disputa pela definição de verbetes na plataforma. Basta observarmos o histórico de alterações de um termo e associar seus momentos de maior atividade para sabermos a que agenda se prestaram os seus editores.

A pesquisa sobre as edições do termo “russofobia” na Wikipedia revela que o artigo passou por várias edições desde 2010, quando foi criado por um usuário que abandonou a edição da plataforma, conforme o “direito a desaparecer” garantido aos editores pela Wiki.

Na sua primeira versão, portanto, aparece apenas com um parágrafo que diz simplesmente:

Russofobia é o sentimento de aversão contra a Rússia ou o povo russo. A russofobia foi um elemento explícito da cultura política na Alemanha nazista, esposada por líderes como Hermann Goering. Nos Estados Unidos, na Europa Ocidental e no Brasil, a russofobia se confundiu com o sentimento anticomunista, no período da Guerra Fria.

Aqui o termo tem um caráter histórico focado nos dois grandes conflitos mundiais, como o que mencionamos de início. Em seguida, porém, outros elementos históricos semelhantes vão sendo acrescentados e, paulatinamente, explicados com interpretações.

Como sabemos, o conflito em que a Rússia anexou a Crimeia ocorreu em 2014. Apenas dois anos depois, em 2016, houve o acréscimo de uma frase após o texto citado:

Muitas das motivações para a participação do mundo anglo-saxão na Guerra Fria não eram fruto do anticomunismo e sim da russofobia que estava presente desde a Guerra da Crimeia.

Aqui fica evidente o caráter de justificação histórica da anexação da Crimeia recém ocorrida.

A Guerra da Criméia, ocorrida no distante final do século XIX (1853), não parecia contar com elementos de russofobia até aquele ano em que a Rússia havia anexado o território, anexando também o conflito numa narrativa mais ampla do ponto de vista histórico. Entra aqui um dos mais importantes elementos narrativos: o senso de continuidade histórica.

A principal fonte para a informação acrescentada no verbete é um pronunciamento do senador britânico Kenneth Pickthorn, em 1961, publicado na revista Foreign Affairs. O autor da alteração de 2016 no verbete também contribuiu com duas contribuições ao verbete “Karl Marx” da plataforma e sobre a modelo norte-americana Cybill Shepherd, que também teve grande atuação em favor de direitos dos homossexuais.

Em 2021, uma nova frase foi acrescentada, agora com a devida atualização e identificação de possíveis agentes da russofobia.

“Lideranças norte-americanas como Barack Obama e Mitt Romney são assumidamente russofóbicos”

As fontes são dois discursos dos políticos democratas ao dizerem que a Rússia é a “grande ameaça geopolítica” atual, publicadas pelo site PoliticFact, um dos pioneiros da prática de checagem de notícias. Ainda hoje é possível observar como o Kremlin foca em políticos democratas como inimigos, como forma de forjar uma inimizade com a elite globalista ocidental associada à esquerda cultural. Essa linha política democrata e os liberais ocidentais estão entre as principais fontes que hoje associam a onda de movimentos de extrema direita a uma influência russa, colocando no mesmo saco movimentos espontâneos cristãos de resistência às pautas globalistas.

Em seguida, no mesmo ano, as referências a Obama e Romney são retiradas do verbete, retornando à versão original. Provavelmente devem ter sido rejeitadas por algum moderador que entendeu serem parciais ou oportunistas de alguma conjuntura eleitoral da política norte-americana.

Já em 2022, o texto aumenta substancialmente, dando mais detalhes sobre a russofobia no período da Segunda Guerra Mundial, com ênfase na ideologia nazista e seu componente anticomunista que atingiu a então União Soviética. Coincidência ou não, naquele ano a Rússia decide invadir a Ucrânia, motivada pelo sentimento de estar sendo ofendida ou encurralada por um plano expansionista da OTAN que estaria usando a Ucrânia. Uma das acusações do Kremlin contra os políticos ucranianos é justamente a de neonazismo.  Só nos primeiros meses de 2022, de fevereiro a abril, o verbete obteve nada menos que 19 atualizações.

Neste sentido, a narrativa do verbete combina e auxilia essa associação da russofobia com as forças políticas ocidentais que apoiavam a Ucrânia, fazendo dessa russofobia um elemento integrante da própria ideologia nazista.

Uma frase chama a atenção se relacionarmos com os temores alegados dos russos em 2022.

“Caso a campanha nazista contra a União Soviética fosse bem-sucedida, Adolf Hitler e outros altos funcionários nazistas estavam preparados para implementar o Generalplan Ost (Plano Geral para o Leste). Esta diretiva teria ordenado o assassinato de mais de 100 milhões de russos ao lado de outros grupos étnicos que habitavam a União Soviética como parte da criação do Lebensraum.”

Vale lembrar que a grande justificativa russa para a invasão da Ucrânia seria uma suposta defesa contra um objetivo de acabar com a Rússia. Lutam, dizia o Kremlin, pela sobrevivência do país. Valendo-se de fontes ligadas a movimentos ocidentais de defesa dos Direitos Humanos, o verbete aponta ainda que haveria um crescimento da russofobia como um conjunto de “clichês” no mundo ocidental, afirmando que:

Alguns indivíduos podem ter preconceito ou ódio contra os russos devido à história, racismo, propaganda ou estereótipos arraigados e ódio existente.

Aqui começam as alegações típicas do léxico esquerdista ocidental, como acusações de ódio racial e estereótipos negativos. Não há informações sobre o editor que promoveu este grande aumento no texto. Uma das afirmações presentes busca reescrever a história dizendo que a motivação da Guerra Fria não era o anticomunismo, mas sim a própria russofobia presente desde a Guerra da Crimeia, fato histórico que até então representa espécie de mito fundador do conceito de russofobia na narrativa russa.

Em seguida, ainda em 2022, uma frase é acrescentada ao final, dobrando a meta da acusação de russofobia, expandindo para um novo patamar:

Na atualidade a russofobia no Ocidente chegou a um nível semelhante ao da Alemanha Nazista contra a União Soviética ou a dos Estados Unidos na Guerra Fria. [grifo nosso]

Ou seja, a conclusão é a de que toda a resistência às pretensões russas pertence às mesmas motivações da Guerra Fria, que como vimos, não é o mero anticomunismo, mas um ódio racial inconfessado à Rússia e aos russos presente na mentalidade do Ocidente como um todo. Alguns meses depois, porém, essa frase ao final é retirada, talvez vista como exagerada.

Em nova contribuição de 2022, o texto assume que, embora tenha havido regresso da russofobia com a dissolução da URSS, em 1991, a Guerra da Ucrânia o trouxe de volta. “Após a invasão, o sentimento anti-russo registou um grande aumento global, atingindo níveis não vistos desde a época da Guerra Fria”, diz o texto.

Em abril de 2022, finalmente entram as tabelas com estatísticas para demonstrar em números o tamanho do “problema”. Além disso, também são acrescentados novos resgates históricos sobre o tema, que recorre às guerras napoleônicas como um elemento importante de um sentimento anti-russo na Europa. De fato, muitas declarações de governos europeus chamavam a atenção para uma sanha expansionista do Império Russo, mas as razões para isso não são mencionadas neste verbete do Wikipedia.

Ainda assim, alguns fatos importantes são resgatados nessa contribuição ao verbete, insinuando ao menos uma razão para tanto “ódio” à Rússia.

Exemplo disso é a postura do poeta russo Fyodor Tyuchev, mencionado no verbete, que viu

“o sentimento anti-russo ocidental como resultado de mal-entendidos causados por diferenças civilizacionais entre o Oriente e o Ocidente. Sendo um adepto do pan-eslavismo, ele acreditava que a missão histórica dos povos eslavos era unir-se em um império russo pan-eslavo e cristão ortodoxo para preservar sua identidade eslava e evitar a assimilação cultural; em suas cartas, a Polônia, um país eslavo, mas católico, foi poeticamente referido como Judas entre os eslavos”.

Apesar dessas incríveis diferenças entre ocidente e oriente, parece que um certo “direito à autodeterminação”, como o cunhado pela ONU, merece o lugar de consenso entre ambas as civilizações.

Na literatura

Evidentemente, a Wiki não é a única fonte para o termo russofobia. Há diversas obras que tratam do tema e que também ocupam lugar importante no imaginário da opinião pública desenhada pelo jornalismo através de livros best-seller de política externa.

A referência mais antiga ao termo, na literatura, foi em 1998, no livro The Firebird: Russian Culture under Tsars and Bolsheviks, de Andrew Baruch Wachtel, que discute a evolução da cultura russa e como percepções externas, incluindo a russofobia, teriam afetado sua trajetória.

Em 2009, o livro Russophobia: Anti-Russian Lobby and American Foreign Policy, de Andrei Tsygankov, explora como a “russofobia” se manifestou nas políticas e na mídia dos Estados Unidos, afetando as relações entre os dois países. Tsygankov argumenta que a hostilidade generalizada contra a Rússia, especialmente após o fim da Guerra Fria, não é apenas reflexo de políticas externas, mas também de uma narrativa ideológica alimentada por lobbies e interesses estratégicos. O autor analisa como os Estados Unidos, em sua política externa, têm promovido uma visão negativa da Rússia para justificar ações como sanções e intervenções, criando um ciclo de desconfiança e confronto. Afirmar isso da própria narrativa vitimizadora dos russos parece soar absurdo.

Importante destacar que em 2004, o Kremlin começa a mudar sua postura e lentamente transformar sua política externa de liberal ocidentalista para a narrativa de oposição e enfrentamento com o Ocidente. Isso fica particularmente claro nas obras do ideólogo Aleksander Dugin (Putin vs Putin) que comemora essa mudança para um “Putin Lunar”. O ano de 2004 foi o início da União da Juventude Eurasiana, momento em que Dugin rompe com o seu velho partido Nacional Bolchevique para uma mera mudança de identidade visual. Era o momento em que o Kremlin desistira das operações de inteligência típicas do tempo da KGB, em que matava funcionários e ameaçava líderes de países do Leste Europeu para permanecerem ao lado de Moscou. Agora, a sua aposta era na juventude, como forma de confrontar o movimento eslavo jovem das chamadas “Revoluções Laranja”. Para isso, Dugin já tinha uma longa ficha de serviços prestados nos anos 80 e 90 em cabarés de Moscou ofertando aos jovens a sua boemia tradicionalista, versão russa da Revolução Conservadora alemã que deu origem ao Nazismo. Toda essa história é fartamente documentada no livro O Sol Negro da Rússia (adquira aqui)

Em 2023, a Rússia trouxe o tema da “russofobia” para debates na Organização das Nações Unidas (ONU), alegando discriminação contra russos em diversos países. No entanto, representantes de outras nações contestaram essas alegações, considerando-as uma tentativa de desviar a atenção das ações russas na Ucrânia.

O “elo perdido” para entender a russofobia

Em suma, a chamada russofobia de fato parece existir em alguma medida, mas é preciso compreendê-la como uma reação ou prevenção contra a ideologia ainda viva do império russo de diversas maneiras, das mais literais às mais sutis. Toda a narrativa vitimizadora sintetizada no termo “russofobia” necessita da omissão deste caráter de pan-eslavismo de cunho esotérico, além das razões históricas que tiveram as vítimas da Rússia. A indiferença ou silenciamento sobre esse aspecto é o elemento FUNDAMENTAL do avanço da narrativa da russofobia como uma injustificada prevenção.

Todavia, hoje não bastam a enumeração dos crimes soviéticos, uma vez que a ideologia eurasiana contemporânea se vale de elementos do próprio anticomunismo, visto como mácula ocidental contra a “verdadeira Rússia”, agora resgatada por Putin.

O movimento romântico na Rússia

A influência do espiritualismo e do esoterismo no nacionalismo russo reflete a interseção entre tradições religiosas, movimentos filosóficos e aspirações políticas ao longo dos séculos. No século XIX, o romantismo europeu inspirou escritores como Dostoiévski e Solovyov a exaltar a missão espiritual da Rússia. Helena Blavatsky, através da teosofia, conectou misticismo oriental e ocidental, vendo a Rússia como um centro espiritual global. Mais tarde, este trabalho seria continuado, de maneira mais abrangente, pelo sufi francês, René Guénon.

Com a Revolução Russa, ideias espiritualistas sobreviveram no exílio, onde o eurasianismo emergiu destacando a Rússia como uma civilização única entre Europa e Ásia. Movimentos neopagãos também buscaram resgatar tradições eslavas pré-cristãs. Durante o período soviético, o esoterismo foi reprimido, mas continuou a existir clandestinamente, preparando o terreno para um renascimento espiritual após 1991.

No pós-Guerra Fria, movimentos como o Rodnoverie e o eurasianismo liderado por Aleksandr Dugin combinaram esoterismo e nacionalismo, promovendo a Rússia como resistência ao materialismo ocidental. Hoje, o esoterismo permanece integrado ao nacionalismo russo, reforçando narrativas que vinculam espiritualidade e identidade nacional, enquanto a Igreja Ortodoxa desempenha um papel central na consolidação dessa visão.

O gnosticismo, matriz típica de heresias e sectarismos, sempre foi aproveitado por ideologias políticas para ampliar os campos de ataque ao inimigo e ocupar espaços também nas almas, típica arma demoníaca que entrega o autor dessas escatologias políticas. Neste sentido, a obra de René Guénon foi fundamental para unir os esoterismos do oriente e ocidente numa versão pan-orientalista e gnóstica que dá origem a um mosaico de ideologias nacionalistas.

Como sabemos, a dissolução da URSS não foi o “fim do comunismo”, como se consagrou, mas a sua expansão em mil e uma formas difíceis de discernir, como o ambientalismo, a ideologia de gênero, o racialismo, sindicalismo e tantos outros que espalharam erros por toda a parte como uma verdadeira bomba revolucionária de fragmentos oriundos do mesmo espiritualismo neopagão e gnóstico. Basta citar os movimentos espiritualistas que culminaram no fenômeno da New Age, sucedido em termos históricos pelo tradicionalismo perenialista como fase seguinte. A ligação entre os dois está bem explícita em artigos como As Garras da Esfinge, de Olavo de Carvalho, mas encontra-se fartamente documentado para quem quiser compreendê-lo. É deste processo que depende muito da geopolítica, ao contrário do que os analistas mais materialistas imaginam.

É um mesmo vitimismo recorrente nas ideias de Aleksandr Dugin e sua Teoria do Mundo Multipolar, que na verdade significa a proposta de um retorno à bipolaridade. O recurso da mistura entre marxismo e anticolonialismo reedita a velha alegação de que o Ocidente, com sua proposta universalista de civilização, dizimou e calou povos tradicionais. O fato da democracia liberal ter realmente anulado a tradição cristã no Ocidente, porém, não valida retroativamente as culturas pagãs e bárbaras extintas após o universalismo católico que construiu originalmente o Ocidente. Com um tecido de mentiras e jogos de linguagem, Dugin ganha cada vez mais adeptos.

O tema deste artigo foi objeto de um extenso curso ministrado há dois anos, na plataforma de estudos do Instituto, o Observatório, a partir do curso Raízes espirituais do globalismo e eurasianismo, ainda disponível na plataforma (clique aqui para adquirir)

 

Autor

  • Cristian Derosa
    Cristian Derosa

    Jornalista e escritor, autor do livro O Sol Negro da Rússia: as raízes ocultistas do eurasianismo, além de outros 5 títulos sobre jornalismo e opinião pública. Editor e fundador do site do Instituto Estudos Nacionais

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