
Avaliação geral do discurso
Na figura de Bolsonaro, o mundo se deu a conhecer um Brasil que é anti-socialista, anti-globalista (ou pró-nações, se o outro nome lhe soa conspiratório), democrata e liberal.
O discurso do presidente na 74ª Assembleia da ONU, se eu pudesse resumi-lo em uma palavra, diria: firme. Foi um discurso consistente, de estadista, que seguiu uma linha coerente, dito por quem estava ali para marcar uma posição no quadro internacional, para representar um corpo de valores e anseios de seu povo, ainda que às custas de magoar suscetibilidades de boa parte das lideranças mundiais acostumadas com um Brasil subserviente, mancomunado e vacilante.
Mas, ao mesmo tempo, não foi um discurso destemperado, beligerante, escatológico, divisionista. Se doeu, pois, quem haveria de se doer mesmo que ele só tivesse lido o Pai-Nosso, uma receita de bolo, ou o hino da Internacional Socialista.
Com efeito, a quem tenha boa-vontade, o discurso, se não foi o melhor de todos os tempos, foi no tom, ora abrandando, ora batendo, mordiscando aqui e assoprando lá, bem como manda a ocasião e o cargo. Dito de outro modo, não vimos, ali, o Bolsonaro do palanque, e nem um robô politicamente correto modulando sua fala pela cosmovisão da elite política e do mainstream midiático. Disse o que precisava dizer, ainda que a mensagem, em alguns pontos, fosse dura; porém, disse com as palavras corretas, palavras que, àqueles que não o odeiam, podem até gerar discordância, mas não ojeriza, repulsa.
E o presidente foi firme ao tratar de todos os assuntos que lhe eram caros, os mais embolados possíveis. E tratou-os todos pelas avessas, na contramão, no espírito anti-establishment, contracultura, que perpassa todo o Ocidente nesta última metade de década. Tudo sem subir demais a voz, sem ofuscar a verdade da fala pelo nervosismo dos gestos.
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Vamos, pois, passear pela fala, analisando os principais pontos abordados por Bolsonaro. Por temáticas, o discurso pode ser dividido da seguinte maneira (cada tema ganhará um artigo a parte):
- Socialismo e Foro de São Paulo
- Liberdade
- Amazônia e Soberania Nacional
- Combate ao Crime
- Novas Relações Internacionais
- Ideologia
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Socialismo e Foro de São Paulo
Logo na abertura do discurso, Bolsonaro tocou num assunto tabu, num tema encrencado, meio proibido. Ele falou, e criticou, o socialismo. E isso no olho do furacão, na casa do adversário. Pois, em essência, a ONU é, sim, filha do socialismo. É a filha que, ao invés de partir para o tiroteio ou cursar ciências sociais, se formou em direito, economia, tecnologia e relações internacionais; também botou um terninho e aprendeu várias línguas. Não obstante, a limpeza do traje e a polidez da fala até disfarçam, mas não podem mudar a carga genética desta douta instituição.
Pois o Bolsonaro disse poucas e boas sobre o socialismo na cara dessa gente, com cubanos e venezuelanos na plateia, consternados.
“Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições”.
E, para sustentar seu ponto, o presidente relatou dois casos concretos, e bastante significativos, de ingerência socialista no Brasil e na América Latina: o Mais Médicos de Cuba e o chavez-madurismo na Venezuela.
Em 2013, um acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional. Foram impedidos de trazer cônjuges e filhos, tiveram 75% de seus salários confiscados pelo regime e foram impedidos de usufruir de direitos fundamentais, como o de ir e vir.
Um verdadeiro trabalho escravo, acreditem… Respaldado por entidades de direitos humanos do Brasil e da ONU!
Sim, ele disse que a ONU compactuou com o trabalho escravo cubano. E disse isso na ONU.
Continuou:
Antes mesmo de eu assumir o governo, quase 90% deles deixaram o Brasil, por ação unilateral do regime cubano. Os que decidiram ficar, se submeterão à qualificação médica para exercer sua profissão.
Deste modo, nosso país deixou de contribuir com a ditadura cubana, não mais enviando para Havana 300 milhões de dólares todos os anos.
A história nos mostra que, já nos anos 60, agentes cubanos foram enviados a diversos países para colaborar com a implementação de ditaduras.
Por isso os delegados da ditadura caribenha saíram fulos da vida acusando Bolsonaro de ser maluco, defensor de ditadura (é sério) e coisas assim.
Restava, pois, que eles lembrassem das cândidas palavras de Che Guevara, no mesmo púlpito da ONU, em 1964:
— Fuzilamentos? Sim. Fuzilamos e seguiremos fuzilando enquanto for necessário.
E, sobre o Venezuela:
Na Venezuela, esses agentes do regime cubano, levados por Hugo Chávez, também chegaram e hoje são aproximadamente 60 mil, que controlam e interferem em todas as áreas da sociedade local, principalmente na Inteligência e na Defesa.
A Venezuela, outrora um país pujante e democrático, hoje experimenta a crueldade do socialismo.
O socialismo está dando certo na Venezuela! Todos estão pobres e sem liberdade!
Fazia tempo, quiçá desde o Reagan, que os comunistas não ouviam uns bons desaforos assim, na lata, de gente graúda, com o acusador dando nome aos bois, apertando a ferida, mostrando que a maldição vermelha não fora saneada depois da Queda do Muro.
Aqui Bolsonaro foi corajoso e, àqueles que sofrem nas mãos desses tiranos, necessário.
…
Mais adiante, Bolsonaro denunciou, para todo o terráqueo que quisesse ouvir, a existência perniciosa do Foro de São Paulo – a que, com justiça, ele se referiu como uma organização criminosa.
O Foro de São Paulo, organização criminosa criada em 1990 por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo na América Latina, ainda continua vivo e tem que ser combatido.
Foro de São Paulo, vale lembrar, era assunto esotérico à grande mídia até outro dia. Uns, cinicamente, o tratavam como teoria da conspiração extremo-direitista. Outros, também cinicamente, diziam que o grupo era inócuo, um clube de velhinhos idealistas que só queriam trocar figurinhas progressistas e tomar chá – ainda que no quadro de filiados houvesse narcotraficantes, sequestradores, terroristas etc.
E a imprensa persistiu na farsa mesmo quando o próprio Lula e o José Dirceu, patronos do troço, confessaram com o coração nas mãos que o tal do Foro havia colocado ditadores comunistas em meio mundo latino-americano.
O assunto, pois, era secreto. Até o Bolsonaro, ouvindo os alertas do filósofo Olavo de Carvalho e de outros analistas que enxergavam no Foro a pedra de toque do projeto comuno-petista para o continente, bater nessa tecla já durante a campanha – inclusive nos debates – e, agora, levar o tema ao palanque mais visado e ouvido do planeta.
De solenemente ignorado ou magicamente escondido, o Foro de São Paulo, graças ao presidente, está definitivamente na boca do mundo.