O crime em escala mundial é o meio para a formação do Estado narcoterrorista já que impõe o medo ao mesmo tempo em que alarga suas fontes de rendimento e de apoio político. Portanto, se transformou em uma estratégia de poder que se serve do álibi de luta legítima por justiça social, porém, se utiliza: de forças criminosas já existentes no ambiente, da cooptação de agentes públicos, formação de forças paramilitares, contratação de mercenários e arregimentação de fanáticos “lobos solitários” .
A mentalidade adequada aos exércitos do terror é aquela que, sob a latência do ódio, sem qualquer temor afronta a ordem social. Por trás desta conduta está um sentimento de não pertencimento ao meio social e é justamente isto o que é explorado pelo narcoterror. Então, a este indivíduo é ofertada a oportunidade de visibilidade e reconhecimento através de ações criminosas.
Vale dizer que a predisposição ao crime é tão ácida quanto o sentimento de não pertencimento a uma comunidade ou a extrema desesperança, pois justamente este vazio será o combustível para insuflar um militante ou combatente narcoterrorista.
O criminoso, nas exceções de doença que impeça a consciência, é movido pelo egoísmo, pela não aceitação de si mesmo, pela deficiência de freios morais e por um desejo de poder, mesmo que fugaz no instante do crime.
Este mesmo tipo de comportamento também aparece nas instâncias radicais da política e religião (ou politica transformada em “religião”), onde o interesse de mudar o mundo, como um justiceiro, está relacionado à tentativa de livrar-se de coisas indesejáveis em si mesmo, ou de alcançar uma representatividade social na adesão a algo que lhe diferencie dos demais, não importa se exótico ou cruel. A devoção a uma crença não inicia com o desejo de progresso próprio, mas sim livrar-se de um ego indesejável para alcançar o renascimento (HOFFER, 1968. Pg. 15).
Sim, é cruel a forma de conversão de pessoas em soldados de uma causa criminosa, tal qual o é um governo que voluntariamente cria ou mantém um estado de pobreza e dependência econômica para, assim, estimular o ódio contra supostos inimigos elaborados pelas narrativas espúrias.
A conduta de afronta a Ordem prospera justamente em sociedades democráticas na medida em que nestes ambientes é possível contestação até mesmo de acusá-la de retrógrada, de opressora ou carente de oportunidades. Porém, jamais esta contestação ocorreria em uma sociedade submetida ao marxismo, nazismo, fascismo, radicalismo religioso e, agregando a este cenário, ao ambiente das facções criminosas onde a contestação também é punida com a pena de morte.
O desenvolvimento humano sob os parâmetros de liberdade busca despertar no indivíduo padrões ético e morais que conduzam a uma capacidade de outo-controle e cooperação. Ou seja, o cidadão compreende que liberdade limitada é primordial para a vida social e que não precisa da força do Estado para respeitar limites e ser altruísta. A tradição cultural permite ao Estado de Direito fundamentar-se nesta autoimposição de regras, formais e informais. A deficiência neste desenvolvimento abre espaço a cooptação do ser humano pelo barbarismo que, ao fim, oferece a catarse pela vingança contra o meio social que a ele não se adapta.
Este ser infantilizado serve de massa de manobra na afronta a ordem pública. A sua mente é tomada pelo instinto vulgar experimentando: um sentimento de invencibilidade, de liberdade para transformar meras sugestões em atos que variam da grosseria ao assassinato (LE BON, 1895).
O estudo do radicalismo marxista-leninista serve como parâmetro para se chegar ao modelo que se opõe à autonomia humana e cooperação espontânea. Esta ideologia, transformada em cultura, pretende, na verdade, um condicionamento atroz do indivíduo que, ao simples estalar de dedos ou palavras gatilhos, o leva a atacar violentamente em nome de uma causa que julga o suprassumo da virtuosidade, ou seja, cria para si uma falsa realidade e daí uma responsabilidade de ação, legal ou ilegal, não importa, já que tudo é justificado pelo ideal que adota.
A Mentalidade Revolucionária é antes um fenômeno espiritual e psicológico que gera um sentimento de plena capacidade de reformular pela astúcia ou violência a sociedade. Ou seja, acredita ser o agente de um futuro melhor e, como agente, seus atos estão acima de qualquer julgamento no presente e a violência que produz é a forma de expressar o desejo de trazer o mundo ao seu controle, uma espécie de incorporação da “divindade” da causa cultural-ideológica (MEIRA PENNA, 1997; ZAMBONI, 2008; CARVALHO, 2018, Pg.186-187; SKOUSEN, 2018, Pg. 45; DEROSA, 2019).
Esta forma invertida de percepção de si e do mundo é que possibilitou a aproximação de radicais marxistas, radicais religiosos e criminosos comuns. Entre estes últimos se tem cada vez mais um claro ideal revolucionário e consequente devoção às facções criminosas. Senão, vejamos o lema-oração do Primeiro Comando da Capital proferida por menores infratores e criminosos da facção: “Um por todos, todos por um. Paz, justiça, liberdade e igualdade para todos”. O resultado desta devoção é o aumento do barbarismo nos crimes comuns na mesma proporção do destemor e ódio contra tudo que representa a sociedade.
Perceba-se, por fim, que a criação desta atmosfera de ressentimento não se deve tão somente a lideranças criminosas. Ela tem um ajuste direto com o modelo político e cultural que toma conta das narrativas políticas e educacionais e que giram em torno da vitimização e imbecilização dos indivíduos; da sua transformação em revoltados contra tudo que representa a sociedade ocidental: a Moral, Ordem, Ética, Justiça. Negando a religião e a tradição Greco-Romana que permitiram que chegássemos até aqui. É a criação de um exército de ressentidos permite o nascimento do Estado narcoterrorista.
BIBLIOGRAFIA
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____________________. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Organização: Felipe Moura Brasil. 34ª edição. Rio de Janeiro, Record, 2018.
DEROSA, Cristian. Curso Espírito Revolucionário e Estratégia Global, 2019. Disponível em https://www.estudosnacionais.com/cursos/curso-espirito-revolucionario-e-estrategia-global-introducao/. Acessado em 08/07/2019.
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